martes, 3 de agosto de 2010

ELOMAR. em concerto.





-Gravado na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, nova demonstração das idéias e ideais Sinfônicos do compositor. Atendendo à veemência da platéia, acontece talvez o primeiro "improviso de côro, violão e orquestra" da história da música, na execução da magistral "Arrumação".





07. Balada do Filho Pródigo - Elomar solo, fragmento do nº 2 da Antiphonaria Sertani 
08. Loa - para orquestra e coro, fragmento do nº 3 da Antiphonaria Sertani, Incelença ad Moribundum Solem, solista Malu Lafetá 
09. Gratidão - para orquestra e coro, fragmento do nº 3 da Antiphonaria Sertani, Incelença ad Moribundum Solem 



Ficha técnica: 

Quateto Bessler-Reis: Bernardo Bessler (1º violino), Michel Bessler (2º violino), Marie-Christine Sprinquel (viola) e Alceu Reis (cello) 

Paulo Sérgio Santos (clarineta/sax) 

Marcelo Bernardes (flauta/sax) 
Antonio Augusto (trompa) 
Octeto Coral de Muri Costa: Baixos: Felipe Abreu e Paulo Brandão - Tenores: Muri Costa e Kaleba Villela - Contraltos: Patricia Costa e Bia Paes Leme - Sopranos: Eveline Hecker e Malu Lafetá. 
Jaques Morelenbaum (regência e direção musical) 

Produção e montagem: Mario de Aratanha 
Produtor Fonográfo: Kuarup Discos 
Gravado por Denilson Campos e Ségio Lima Neto 
Assistente de gravação: José Ary 
Pós-produção de estúdio: Muri Costa 
Mixagem digital: Mario Possollo 
Capa: Janine Houard (design), Artur Cavalieri (fotos), Antonio Woyames (arte-final). 
Agradecimentos: Henrique Morelenbaum, Maria Clara Jorge, Dietrich Batista




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Sobre el no tan conocido músico nordestino brasileño Elomar Figueira Mello, dice Vinícius de Moraes en la contratapa del LP Elomar ...das barrancas do Rio Gavião, de 1973:



"A mim me parece um disparate que exista mar em seu nome, porque um nada tem a ver com o outro, No dia em que "o sertão virar mar", como na cantiga, minha impressão é que Elomar vai juntar seus bodes, de que tem uma grande criação em sua fazenda "Duas Passagens", entre as serras da Sussuarana e da Prata, em plena caatinga baiana, e os irá tangendo até encontrar novas terras áridas, onde sobrevivam apenas os bichos e as plantas que, como ele, não precisam de umidade para viver; e ali fincar novos marcos e ficar em paz entre suas amigas as cascavéis e as tarântulas, compondo ao violão suas lindas baladas e mirando sua plantação particular de estrelas que, no ar enxuto e rigoroso, vão se desdobrando à medida que o olhar se acomoda ao céu, até penetrar novas fazendas celestes além, sempre além, no infinito latifúndio.






Pois assim é Elomar Figueira de Melo: um príncipe da caatinga, que o mantém desidratado como um couro bem curtido, em seus 34 anos de vida e muitos séculos de cultura musical, nisso que suas composições são uma sábia mistura do romanceiro medieval, tal como era praticado pelos reis-cavalheiros e menestréis errantes e que culminou na época de Elizabeth, da Inglaterra; e do cancioneiro do Nordeste, com suas toadas em terças plangentes e suas canções de cordel, que trazem logo à mente os brancos e planos caminhos desolados do sertão, no fim extremo dos quais reponta de repente um cego cantador com os olhos comidos de glaucoma e guiado por um menino - anjo a cantar façanhas de antigos cangaceiros ou "causos" escabrosos de paixões espúrias sob o sol assassino do agreste.





Elomar nasceu em Vitória da Conquista, cidade que também deu vez a Glauber Rocha e Zu Campos, e depois de formar-se em arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, ocupa atualmente o cargo de Diretor de Urbanismo em sua cidade. Mas do que gosta realmente é de sua caatingueira, uma das mais ásperas do sertão brasileiro, onde cria bodes e carneiros. Já me foi contado que um de seus reprodutores, o famoso bode "Francisco Orellana", quando a umidade do ar apresenta seus índices mais baixos - que usualmente é 10 graus - senta-se em posição estratégica sobre as patas traseiras e não se peja de urinar na própria boca, de modo a aproveitar, num instintivo e engenhoso recurso ecológico, a própria água do corpo para dessedentar-se.





E tem a onça. Vez por outra, a madrugada restitui a carcaça sangrenta de um bode ou um carneiro, e todas as preocupações cessam, a não ser chumbar a bicha. E a conversa entre os fazendeiros fica sendo apenas essa: onça, suas manias, suas manhas, seus pontos fracos.
Todo mundo se oncifica. Elomar sai à noite para tocaiá-la, e quando a avista só atira nela de frente.






- Um bicho que vem de tão longe para matar meus bodes, esse eu respeito! - diz ele em seu sotaque matuto (apesar da boa cultura geral que tem) e que faz questão de não perder por nada, enojado que está da nossa suposta civilização.

Quando lhe manifestei desejo de passar uns dias em sua companhia e de sua família (Elomar é casado e tem um par de filhos, sendo que a menina tem o lindo nome de Rosa Duprado) para descobrir, em sua companhia e ao som do excelente violão que toca, essas estrelas reconditas que já não se consegue mais ver nos nossos céus poluídos, Elomar me disse:

- Pode vir quando quiser. Deixe só eu ajeitar a casa, que não está boa, e afastar um pouco dali minhas cascavéis e minhas tarântulas...

É... Quem sabe não vai ser lá, no barato das galáxias e da música de Elomar, que eu vou acabar amarrando um bode definitivo e ficar curtindo uma de pastor de estrelas..."

Vinícius de Moraes

Abril de 1973











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